domingo, 25 de abril de 2010

O velório


Num tem muito tempo, eu me alembro de qui os velório dos difunto morto era feito dentro de casa memo, em riba da cama. Num tinha nada de botá o morto direto no cachão. Sem contá que o ditocujo era “bibido” cum muito café e pinga.
Uma veiz eu fui incumendá a alma de um afiado que morava lá pras banda da Boca da Onça, perto da casa do Pedro Garrincha. A úrtima vêiz que eu tinha visto o afiado foi na purcissão de Domingo de Ramo, no ano passado. Achei ele um cabuquim taludo, co seus trinta e pôcos ano, que me tacô um arroxo de abraço que quais me iscanhotô... e agora tava ali, induricido, marelo que nem safrão, na cama de mola que eu dei de presente de casamento prêle. Eita, que vida isquisita!
Mais isquisto foi o sucedido no velório, sô! Hummmm, nem te conto...!
Cheguei era quais cinco hora e o sol já discambava pras banda do Corgo do Armoço. Já tinha muita gente na solêra da porta, gungunano argumas lembrança e muitos “será-o-qui-conteceu”. Tirei o chapéu, entrei pra dentro e fui prestá homenage pro difunto.
Tava tudo arrumadim. O difunto em riba do cochão, cos pé virado pra porta da sala, e dibaxo da cama a bacia cum água, pro difunto num inchá. Já de noite, uns disinfiliz, qui já tinha bibido mais do que o difunto valia, resorvêro botá a cabeça do lampião no bujão da cunzinha, pra mio clariá a casinha.
Minino! O gais cumeçô a vazá numa gorfada branca e fidida. Eu tava de costa e sinti aquele vento gelado na nuca e assuntei aquele pampêro de gente correno pro rumo da porta, rastano tudo. No mei da gritaiada, era gente caíno e seno pisada por quem vinha atráis.
Num teve home corajoso qui num rupiô. Mais a nutiça que saiu lá fora era co difunto tinha dismurrido e tava bafejano o vento da morte em todo mundo.
Anssim, Os qui tava de fora quiria entrá -brabos que só veno- pra cabá de matá o morto,,, e os de dentro quiria saí. Travô tudo na sala miúda!
Eu tava rezano o terço pertim do difunto e cos isbarrão caí deitado em riba do morto. O cochão era de mola e num parava de tremê ca minha peleja pra levantá. Quano eu me sungava, o cochão afundava e o difunto sacudia dibaxo de mim.
Sô! A peleja durô bem uns cinco minuto e paricia qui o difunto tava gostano muito, puis ele balangava a cabeça pra riba e pra baxo no galiado do cochão. Eu num tava gostano nem um pôco, pro causa de qui fiquei sintino o frio do morto na minha barriga e escuitano gritaiada do povo atráis.
Eu sei que teve um saino pela janela, ôtro pelo teiado baxo que dispencô, jogano o sujeito no chiquero que tinha do lado da casinha. Eu num tenho medo de nada, não. Mais no calor do acunticido da hora mijei na rôpa... e foi tanto mijo qui impapô o terno do difunto.
Pra mode ninguém discunfiá da minha pôca valentia, peguei a bacia dibaxo da cama, derramei nimim e sai dali digêro.
Dispois disso, os morto eu incumendo lá do terrero da sala memo, sem pricisá de chegá muito perto, puis sei qui Deus e a famía num vai ficá mal sirvido cumigo.

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